LAVAGEM DO SENHOR DO BONFIM: FESTA QUE REÚNE TRADIÇÃO, SINCRETISMO E FÉ Ricardo Lemos 12 de janeiro de 2023 Cultura, Notícias Sincretismo Celebração teve início em 1773, através dos negros que preparavam igreja para Festa do Bonfim Por: Elson Barbosa Fotos: Elson Barbosa / iBahiaUma das celebrações religiosas mais tradicionais da Bahia, a Lavagem do Senhor do Bonfim foi retomada em 2022, após dois anos da pandemia da Covid-19. Realizada sempre na quinta-feira que antecede o segundo domingo após o Dia de Reis, o festejo teve início em 1773, através dos negros que tinham a função de limpar a igreja em preparação à Festa do Bonfim. A festividade é tão importante para a cultura popular brasileira que, em 2013, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, ganhando o título de Patrimônio Imaterial do Brasil. No entanto, para falar da festa é preciso relembrar como o culto ao Senhor do Bonfim foi introduzido no Brasil. O historiador Felipe Silveira conta que a reverência ao santo foi introduzida no país no século XVIII pelo capitão da Matinha portuguesa Theodósio Rodrigues de Faria. “Ele era devoto do Senhor do Bonfim e havia feito uma promessa de que se sobrevivesse a uma tempestade no mar traria para o Brasil a imagem do santo”, explica. Fotos: Elson Barbosa / iBahia Com isso, ele trouxe, em 1745, uma réplica do Senhor do Bonfim, que estava em Portugal. A partir da chegada da imagem, uma construção começou a ser feita para recebê-la. Enquanto a obra não ficava pronta, a imagem do Senhor do Bonfim foi depositada na Capela da Penha, local em que os portugueses criaram uma devoção ao santo. Em julho de 1754, a imagem foi transferida em procissão para a própria igreja, na Colina Sagrada. Nessa época, os negros escravizados tinham a obrigação de preparar a igreja para a Festa do Bonfim, o que incluía a limpeza de toda a estrutura do templo. Bárbara Gonçalves, que é voluntária da Igreja do Senhor do Bonfim, detalha que, como as religiões de matrizes africanas não eram aceitas pela Igreja Católica, os escravos cultuavam seus deuses no momento em que lavavam a igreja. Fotos: Elson Barbosa / iBahia “Inteligentemente, no momento em que eles limpavam a igreja, eles traziam água de cheiro, de flores perfumadas. Com isso, os negros fizeram essa sincronização entre os deuses de matrizes africanas e os santos católicos, que hoje distinguimos como: Yansã / Santa Bárbara; Ogum / São Jorge; Oxalá / Jesus; entre outros”, explica Bárbara. Devido a devoção ao Senhor do Bonfim, a lavagem começou a tomar uma grande proporção na Bahia. “Juntamente com os negros, as pessoas também começaram a acompanha-los na lavagem. E essa tradição foi que formou a famosa Lavagem do Bonfim, que é tão conhecida no Brasil e no mundo”, enfatiza. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website
Celebração teve início em 1773, através dos negros que preparavam igreja para Festa do Bonfim Por: Elson Barbosa Fotos: Elson Barbosa / iBahiaUma das celebrações religiosas mais tradicionais da Bahia, a Lavagem do Senhor do Bonfim foi retomada em 2022, após dois anos da pandemia da Covid-19. Realizada sempre na quinta-feira que antecede o segundo domingo após o Dia de Reis, o festejo teve início em 1773, através dos negros que tinham a função de limpar a igreja em preparação à Festa do Bonfim. A festividade é tão importante para a cultura popular brasileira que, em 2013, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, ganhando o título de Patrimônio Imaterial do Brasil. No entanto, para falar da festa é preciso relembrar como o culto ao Senhor do Bonfim foi introduzido no Brasil. O historiador Felipe Silveira conta que a reverência ao santo foi introduzida no país no século XVIII pelo capitão da Matinha portuguesa Theodósio Rodrigues de Faria. “Ele era devoto do Senhor do Bonfim e havia feito uma promessa de que se sobrevivesse a uma tempestade no mar traria para o Brasil a imagem do santo”, explica. Fotos: Elson Barbosa / iBahia Com isso, ele trouxe, em 1745, uma réplica do Senhor do Bonfim, que estava em Portugal. A partir da chegada da imagem, uma construção começou a ser feita para recebê-la. Enquanto a obra não ficava pronta, a imagem do Senhor do Bonfim foi depositada na Capela da Penha, local em que os portugueses criaram uma devoção ao santo. Em julho de 1754, a imagem foi transferida em procissão para a própria igreja, na Colina Sagrada. Nessa época, os negros escravizados tinham a obrigação de preparar a igreja para a Festa do Bonfim, o que incluía a limpeza de toda a estrutura do templo. Bárbara Gonçalves, que é voluntária da Igreja do Senhor do Bonfim, detalha que, como as religiões de matrizes africanas não eram aceitas pela Igreja Católica, os escravos cultuavam seus deuses no momento em que lavavam a igreja. Fotos: Elson Barbosa / iBahia “Inteligentemente, no momento em que eles limpavam a igreja, eles traziam água de cheiro, de flores perfumadas. Com isso, os negros fizeram essa sincronização entre os deuses de matrizes africanas e os santos católicos, que hoje distinguimos como: Yansã / Santa Bárbara; Ogum / São Jorge; Oxalá / Jesus; entre outros”, explica Bárbara. Devido a devoção ao Senhor do Bonfim, a lavagem começou a tomar uma grande proporção na Bahia. “Juntamente com os negros, as pessoas também começaram a acompanha-los na lavagem. E essa tradição foi que formou a famosa Lavagem do Bonfim, que é tão conhecida no Brasil e no mundo”, enfatiza.