Por Miriam Hermes

O Nordeste brasileiro soma um prejuízo aproximado de R$ 1,2 bilhão com a suspensão das festas juninas presenciais deste ano por causa da pandemia, conforme estimativa do Ministério do Turismo com base nas informações de diversas organizações ligadas ao setor.

Os últimos festejos sem restrições sanitárias ocorreram em 2019. Cidades como Amargosa, Cruz das Almas, Senhor do Bonfim, Cachoeira, Ibicuí, Santo Antônio de Jesus e Itapetinga, dentre muitas outras, sempre fizeram das comemorações deste mês importantes eventos para geração de emprego e renda entre a população.

Além dos cenários bucólicos das cidades interioranas, estes eventos têm como atrativos a hospitalidade dos moradores, o acesso a comidas e bebidas da época, shows/espetáculos com bandas famosas do contexto junino e nomes do cenário musical brasileiro.

“Em busca destes lugares muitas pessoas sempre mantiveram por hábito viajar neste período do ano, costume interrompido para a grande maioria desde o ano passado”, afirmou a gerente de pousada em Senhor do Bonfim Ângela Santarém, lamentando as limitações impostas pela pandemia e afirmando ter esperança de normalização a partir do próximo ano.

Amargosa está entre as cidades que receberam os maiores públicos nas últimas edições do São João, estimado em mais de 100 mil pessoas por noite no circuito da festa.

Mas não só os grandes arraias atraem visitantes. Pela forte tradição na maioria das cidades e vilarejos, as festas juninas fazem parte do calendário anual de eventos religiosos e profanos, povoando o imaginário popular.

“As primeiras lembranças do São João são muito fortes em minha memória, com imagens que expressam alegria pelo colorido das bandeirolas, a emoção da fogueira e dos fogos de artifício, o ritmo das músicas animadas e as comidas de sabor inesquecível”, afirmou a administradora Anna Castillo, 34 anos.

Para ela, entre as melhores festas juninas que frequentou até agora, “foram muito especiais aquelas que passamos em chácaras e em pequenos vilarejos. Só entre amigos e familiares, muitas brincadeiras, delícias e segurança”.

Para este ano, segundo mês de junho na pandemia da Covid-19, os preparativos se restringem para passar “só entre os familiares mais chegados”, já avisou a artesã Leila Ribeiro, garantindo que terá decoração e pratos típicos, “para manter a tradição. Mas nada de aglomerações e viagens”.

O plano da família deve ser semelhante ao de grande parte da população baiana. Estado que é reconhecido em todo o Brasil pelas festas juninas de rua organizadas em diversas regiões e que pelo segundo ano consecutivo estão proibidas.

Ela, que com o marido já dirigiu a organização de festejos de São João na Estância Mel, em Barreiras, também fala com saudades e lembra que os eventos eram planejados com mais de três meses de antecedência, período em que a decoração era confeccionada e providenciada toda a produção.

Alegria e afeto

“Tínhamos alegria em fazer essas festas, e nos dias próximos do evento algumas pessoas já ficavam na chácara para ajudar na montagem”, afirmou, salientando que suas lembranças mais remotas destes festejos remetem à cidade de Milagres, onde ela morava com os pais na infância.

Conforme Leila Ribeiro, na memória tem registros marcantes daquele tempo. “As fogueiras tinham árvores com laranjas e dinheiro dependurados. Também lembro que as ruas eram enfeitadas, tinha muita música e a gente saía de casa em casa desejando um bom São João. As pessoas ofereciam deliciosas comidas típicas”, enfatizou.

As mudanças no modo de comemorar os santos juninos não se restringem aos eventos ‘profanos’ com o decreto da pandemia. Desde 2020 também as novenas e missas festivas acontecem sem a presença de público nas igrejas, com transmissão via redes sociais.

“Há mais de 15 anos que organizo uma novena para São João Batista, segundo um costume que minha avó manteve enquanto viveu”, afirmou a fisioterapeuta Denize Braga. Ela lamentou, no entanto, que desde o ano passado “não posso convidar minhas amigas para minha casa. Só pessoas do convívio diário”.

 

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