Por Adriano Pereira*

Respeitável público… há 35 anos, no dia do aniversário de Valença, o Centro de Cultura Olívia Barradas era inaugurado. A nova casa da cultura, no bairro da Graça, com suas portas de vidro e arquitetura moderna, impressionava, de longe, aos que por ali passavam.
Historicamente, na ausência de um Centro de Convenções, foi também cenário de formaturas, congressos, simpósios, conferências e outras atividades. Mas cumprindo sua função cultural, seu palco recebeu também nomes importantes do cenário nacional como Belchior, Geraldo Azevedo, Xangai, Elomar, Chico César…
No teatro recebeu também grandes estrelas como Mário Gusmão, o “anjo negro da Bahia”, Jurema Pena… e foi a partir do “chapéu de palha” que a cultura começou a formar “gente de Valença” como o teatrólogo Otávio Mota, ainda num “ensaio para um grito brando”, circulando a Bahia com seu polêmico “apocalipse man”… Sônia Leite, Elias Santos, Ricardo Lemos, Dayse Costa, Juliano Britto, Irene Dóres, Gilvan Monção… como esquecer do eterno Vanilton Costa e tanta gente que passou pela “pensão boa paz”… Billy Well, Reinaldinho, Marinaldo Coutinho, “Quero ver ardiê meu sinhô”… tantas histórias guardadas nas coxias e bastidores… sob as luzes da ribalta de Sherman Lucius e depois Manoel Santos, com a sonoplastia de Geilson de Britto…
Mas era na polivalência das salas de ensaio que o novo teatro de Cadu Oliveira, Van Sena e “as barangas”, Maria Cláudia e o “Teatro Nu”, Jhessy Coutinho e o Misturarte… o balé clássico de Cintia Bulcão, Jefferson Finatti, Thiago Mascarenhas, Cássio Monge, Jackson Britto, Éder de Jesus e toda uma nova geração conectava-nos com o Bolshoy… Célia e o grupo Afro Filhos da Terra, Everton Bacélla… a turma do HIP HOP, Marvan, Rhayman, Taci & Thiago, Jeferson… ocupando as salas e movimentando o novo cenário da dança…
Na grande tela assistimos Titanic e tantos outros clássicos do cinema, através da resistência de Cláudio, hoje com o Cine Vitória. Como não falar do anfi-teatro, inacabado, mas sempre ocupado pelos ensaios de Wellington da Guitarra, Temperalta, Besouros que fedem, Quilombra, Os Quatro Elementos, Anarcomangue, David Terra…
Tantos Recitais, Ocupações… Novos Valencianos, Pincel, suas esculturas e instalações… os Salões de Arte levando pro mundo Nem Cardim, Xisto Camardelli, Salomão, a família Martinez… impossível colocar no papel tanta gente e histórias… mas citei algumas para lembrar, sobretudo, que a história do Centro, mais que suas paredes, é feita e povoada de gente! Gente que pulsa arte e cultura!
Hoje o centro continua interditado! Toda essa movimentação não impediu que, por ironia do destino, antes mesmo da pandemia, uma praga de pombos, nos obrigasse, a contragosto, cerrar suas portas! Sua estrutura reclama urgente uma ampla reforma e requalificação do espaço. O Governo da Bahia já abriu a licitação pra primeira etapa. Mais que isso, a população precisa reconhecê-lo como seu e cobrar urgência não só do Estado, mas envolver poderes, vereadores e deputados, entidades e empresas locais que tanto usufruíram desse espaço para devolver, o mais rápido possível, seu funcionamento com a pujança que a cultura e população valenciana reivindicam e merecem, vez que “numa sociedade sem cultura, a violência vira espetáculo”.
Vida longa ao Centro de Cultura de Valença!


Adriano Pereira de Queiroz, vice presidente do Conselho Estadual de Cultura, poeta, ator e produtor cultural, formado pelas oficinas e cursos realizados, em sua grande maioria, no Centro de Cultura; idealizador da Ocupação Cultural, projeto residente há 13 anos no Centro de Cultura, hoje reconhecido como Ponto de Cultura pelo Governo da Bahia.

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