O ano de 2021 não tem sido um dos melhores para o bolso do brasileiro. Além da alta nos alimentos, que chegou a 83% em itens como óleo de soja, também ficou mais caro se deslocar, com a gasolina batendo recordes de reajustes: só neste ano foram nove. O aumento acumulado é de 51%, até agora.

No início do ano, a gasolina chegou a custar R$ 1,83 nas refinarias. De lá para cá, a partir da quinta-feira, 12, o litro passou de R$ 2,69 para R$ 2,78, também nas refinarias. Mas em Salvador, o valor nos postos já ultrapassava os R$ 6 antes mesmo do reajuste.

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O assistente administrativo Lucas Costa costumava ir de carro para o trabalho. Com a alta nos preços, a saída foi optar por transportes econômicos como a bicicleta e o metrô. Porém, ele conta que mesmo reduzindo o uso, ainda chega a gastar bastante com o abastecimento do veículo.

“Gasto mais de R$ 300, isso sem encher o tanque, e ainda assim não ando muito. Me sinto super chateado com esses aumentos na gasolina, porque o que a gente enche não dura. Um valor de R$ 50, por exemplo, é mais do que a diária do meu trabalho e não dá para nada”, lamenta ele.

Quem também precisou reduzir o uso do carro foi o operador de processos químicos Anderson Moreira. Ele utilizava o carro principalmente para ir às aulas na faculdade, além de trabalhar e passear, mas hoje evita se deslocar com o veículo próprio para o trabalho e utiliza o sistema de roteiro da empresa.

“Como as aulas estavam online durante a pandemia, era para ter uma economia significativa com gasolina. Porém, com os sucessivos aumentos, isso não ocorreu”, diz ele. “Acho que estou gastando em média R$ 200 por mês de gasolina, o que acho bastante se comparado há alguns anos (antes do governo Bolsonaro)”, completa.

De olho no lucro

Para quem depende do transporte próprio para manter um negócio ou prestar serviços, fica ainda mais difícil. O jeito, então, é tentar reduzir o impacto do orçamento como pode e, ao mesmo tempo, ficar de olho no lucro.

Esse é o caso do vidraceiro Vagno Brandão, que possui uma pequena empresa, a “Divina Obra Glass”, e precisa usar o veículo para transportar as peças e materiais que instala. Ultimamente, ele intercala a utilização do carro com uma moto.

“No momento tenho utilizado a moto para orçamento, em virtude do aumento surreal do combustível, e utilizo o carro quando vou fazer o serviço. O abastecimento por mês é de, em média, R$ 1.600”, conta.

Vagno diz que tenta repassar o preço alto do combustível o mínimo possível à clientela, mas que não sabe até quando vai conseguir fazer isso.

“O aumento está desfavorecendo o trabalhador em geral e reflete em várias áreas, porque todo mundo acaba repassando o valor do combustível para o consumidor final, o que encarece serviços e mercadorias. Não sei onde isso vai parar, mas não está trazendo benefícios nenhum pro povo. Isso Paulo Guedes não vê. Enquanto ficam preocupados com voto impresso ao invés de se preocupar com a situação do povo. Por enquanto ainda não estamos cobrando para realizar orçamento mas, se continuar assim, ficará inviável sair sem cobrar”, afirma.

O eletrotécnico José Carlos Menezes sempre usou o carro para trabalhar e compara: “Em 2019, eu gastava R$ 400. Hoje, gastaria em torno de R$ 550 se as minhas aulas na universidade fossem presenciais”, explica. No entanto, mesmo tendo que fazer cortes em outras áreas para não deixar o orçamento estourar, ele diz que deixar de usar o carro não está nos planos. “Se deixar de usar o carro, o impacto será ainda maior no rendimento das minhas atividades”, diz.

Como denunciar

Órgãos como a Agência Nacional do Petróleo e o Procon são responsáveis por denúncias envolvendo postos de combustíveis. Eles comparam o preço cobrado na bomba x preço pago pelo posto na refinaria.

Segundo o advogado e ex-superintendente de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA), Filipe Vieira, após o anúncio do aumento, os postos podem reajustar o preço repassado ao consumidor quando o combustível for comprado no novo valor. Esse reajuste pode ocorrer em determinado percentual, mas precisa ser monitorado. “Neste caso, ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Ministério Público e demais órgãos de proteção ao consumidor podem ajudar sim, recebendo as denúncias”, ressalta.

Caso o motorista suspeite de uma cobrança abusiva, pode denunciar o posto por telefone ou pela internet. Caso o aumento excessivo for comprovado, o posto pode ser multado.

Agência Nacional do Petróleo (ANP) – telefone 0800 970 0267, canal direto de relacionamento da ANP ou site da agência.

Procon – telefone 151 ou formulário online para envio de reclamações.

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