Por Moacir Saraiva

O casal estava há cinco anos casado, entre os dois havia uma sintonia quase beirando a perfeição, uma vez que viviam muito bem, viajavam, curtiam, tinham um ciclo de amizade saudável, enfim era um casal feliz.

No início dessa nova fase da vida, optaram por não trazer um bebê para o mundo a fim de se aprumarem melhor, somente após esse período, aí sim, iriam procriar. E os dois continuavam eternamente em lua de mel.

Após o quinto ano e alguns meses, em um papo corriqueiro, o sujeito elevou a voz para a esposa como nunca dantes, ela estranhou muito, pois jamais fora tratada daquela forma por ninguém. A esposa, com carinho e com bastante calma, perguntou ao esposo:

– O que está havendo, meu amor?
– Nada, me desculpe. Respondeu ele de uma forma fria.

A vida continuou para os dois, não tão normal como outrora, mas continuou.

A esposa, conhecedora da lei e antenada com o mundo, começou a analisar casos de agressão às mulheres e concluiu que uma agressão física e até o assassinato vêm antecedidas de pequenas ações de desrespeito até chegar a algo mais doloroso para a mulher, agressões morais, físicas ou até a morte. O processo da agressão ou do assassinato, começa com uma palavra mais alterada, depois outras, em seguida, gritos, palavrões, empurrões até um desfecho terrível para elas, ou seja, essas atrocidades contra as mulheres têm um começo “leve”.

Passados uns três meses desse primeiro grito, houve uma nova alteração de voz, por parte do marido, e agora com mais ingredientes de desrespeito. Ela ouviu, ficou chocada, e nada falou.
Ela se recolheu e, no dia seguinte, providenciou, silenciosamente, o divórcio, hoje pode ser unilateral, e após aprontar toda a papelada e já, juridicamente, consumado o ato, marcou um almoço, em um bom restaurante, com amigos e parentes. Após saborearem a sobremesa, ela pediu a palavra e falou que tinha uma surpresa para o marido, ele ficou tenso. Ela o entregou um envelope e ele pensou que fosse um teste positivo de gravidez.

Ao abri-lo, viu que a primeira palavra era DIVÓRCIO. Ele perguntou a ela:
– Quem está se divorciando?
– Continue a leitura. Disse ela.

Quando ele tomou consciência do que se tratava, começou a chorar e chorar copiosamente.
O pai da recém divorciada a pegou pela mão, a abraçou fortemente e, antes de levá-la para casa, na frente de todos, disse:
– Tenho muito orgulho de você, filha.

 

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